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Lado A_Lado B

dezembro 4, 2009

Qual a primeira coisa que vem à cabeça quando nos deparamos com imagens que permeiam o nosso cotidiano? Essa curiosidade foi a grande fomentadora da experimentação ladoA ladoB, realizada pelo blog intermedia. Com a webcam de dois notebooks, filmamos a reação de várias pessoas ao mesmo conjunto de imagens. E o mais inusitado: nenhum dos participantes sabia que estava sendo filmado.

LaboA LadoB : o sujeito e as coisas do mundo. Eis uma falsa dicotomia. As coisas só existem e são dotadas de significado a partir de sua apreensão pelo sujeito. Ou melhor, a partir dos sujeitos em interação. Quem falou isso foi G. H. Mead entre as décadas de 1920 e 1930, na Escola de Chicago. O sociólogo pragmático foi um dos principais inspiradores do chamado Interacionismo Simbólico, corrente teórica que pensa a sociedade enquanto constituída por indivíduos em constante troca comunicativa mediada pela linguagem. Essa permuta é o que dota de significado os objetos que nos rodeiam. Assim, um vaso sanitário somente carrega seu recorrente sentido de vaso sanitário a partir do momento em que isso é determinado socialmente. A semiótica – estudo dos signos desenvolvido por C. S. Peirce, outro estudioso e pragmático da Escola de Chicago – trata, dentre várias questões, da colagem arbitrária entre um significante (materialidade, como a imagem de um objeto) e um significado (o sentido específico desse objeto). Em si, as coisas não significam – não carregam uma imanência de sentido.

É exatamente essa unidade social de significância que dá coerência ao ladoA ladoB. Todas as imagens mostradas aos participantes tiveram, para eles, o mesmo significado fundamental. A imagem de uma cadeira vem, para todos, acompanhada do significado desse objeto. No entanto, o interessante é observar como, por meio de uma mesma base, cada pessoa fez uma conexão com outros significados.  Por vezes as mesmas relações foram estabelecidas, como no caso da imagem do leite sendo despejado num copo: as palavras “vaca” e “cálcio” foram recorrentes.  E houve momentos em que, surpreendentemente, as reações foram muito distintas. A figura do batom, por exemplo, levantou expressões como “batom, o vermelho do batom”, “nojo” e “avon”. A imagem do vaso sanitário, por sua vez, foi recepcionada com falas como “o trono” e “o descanso eterno”.

Acompanhando as palavras dos participantes, as expressões faciais deixaram marcas das sensações que emergiam no momento do contato entre essas pessoas e as imagens exibidas na tela dos notebooks. A naturalidade das reações foi imprescindível para se pensar na espontaneidade das associações se sentidos que fazemos o tempo todo. Daí os “entrevistados” não terem sido alertados anteriormente sobre a filmagem. No caso de uma consciência por parte deles do registro audiovisual, a expressividade seria claramente outra: trata-se de criar expectativas acerca do que o outro – o espectador – vai pensar de mim – o filmado.

A experimentação ladoA ladoB, concretizada no vídeo produzido, gera diversas cogitações sobre a relação entre os indivíduos e as imagens que os circundam. No mais, o intermedia espera que a experiência de assistir ao vídeo tenha sido tão interessante quanto foi a de produzi-lo: uma combinação de empolgantes reflexões com, é claro, muitos risos.